sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão

Fazendo o balanço do que aconteceu em 2009 com o ensino da Lingua Portuguesa nas comunidades residentes no estrangeiro, à mercê do desatino que reina em Lisboa, da ignorância em relação à emigração que grassa até mesmo nos departamentos governamentais e do acto falhado, porque destituído de inteligência e realismo, que foi a entrega do ensino básico ao Instituto Camões, feito esse balanço e tudo somado, bem podemos dizer que foi um ano para esquecer. E para não repetir.
Aconteceu muito do que nunca poderia ter acontecido, e não aconteceu mais, e mais grave, graças à competência e honestidade de alguns coordenadores. Onde eles não existem ou existem como nulidades que agem sem controlo nem inspecção, passaram-se coisas muito feias. Destacamos uma delas, pelo escândalo gritante de que se reveste, e dela damos notícia à diáspora atenta e à coisa pública portuguesa, essa desatenta e ralaça. Vamos, então, falar-vos do (des)ensino do Português no Rhode Island College (RIC)
O ensino do Português no Rhode Island College, EUA, coroado de sucesso em 2008, com o trabalho do Professor Joseph Levi, está neste momento moribundo. A história conta-se rapidamente:
O Professor Joseph Levi, aluno de licenciatura de História da Expansão Portuguesa da Universidade de Lisboa e aluno de Mestrado em Língua Portuguesa e Doutoramento em Filologia Românica, pela University of Wisconsin Madison, EUA, começou o programa de língua Portuguesa em 2001 com um contrato de trabalho de um ano. Em 2002, o Prof. recebeu um contrato de 3 anos, seguido por outro de 3 anos.
Durante o tempo em que se manteve em funções, o Prof. Levi, com a sua acção, trabalho reconhecido e persistência, desenvolveu o programa de Português da Universidade, criando uma Licenciatura de Língua Portuguesa e Estudos Lusófonos, na qual ensinou as seguintes cadeiras:Português I, II, III e IV; Composição e Conversação I e II, Gramática Aplicada; História de Portugal, História do Brasil; Literatura Portuguesa I e II; Literatura Brasileira I e II; Linguística Portuguesa; História da Língua Portuguesa; Literatura Africana; Cultura e Civilização dos Judeus Portugueses (Sefarditas); Cultura e Civilização de Macau; História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses; Cultura e Civilização dos Açores; Cinema Lusófono; e Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa.
Conforme os alunos foram terminando a licenciatura, assim surgiu a necessidade de se oferecer mestrados e doutoramentos em língua portuguesa. Neste contexto, o Professor Levi aprofundou, com os alunos, as áreas acima explicitadas e ensinou cadeiras como Filologia Românica e Dialectologia Românica. Em 2006, pela mão do Professor Levi, o Rhode Island College viu surgir o Institute for Portuguese and Lusophone World Studies, a partir do qual o RIC concretizou mais de meio milhão de dólares angariados por este docente.
Em 2008, apesar do brilhante trabalho que o Professor Levi estava a desenvolver, o qual serviu mais de 500 alunos, o docente não viu o seu contrato renovado, perante o silêncio da comunidade portuguesa que tanto ganhou com o saber e trabalho deste docente, abandonado sem dó nem piedade na hora da injustiça. Com o argumento de que à frente do programa e do Instituto, bem como das aulas, deveriam estar pessoas de etnia portuguesa, a Universidade prescindiu dos serviços especializados deste docente. Não obstante as reclamações feitas pelos alunos e as demonstrações públicas de apoio de dezenas de colegas, a responsabilidade das funções exercidas pelo docente foram transferidas para pessoas de etnia portuguesa, sem dúvida, mas sem formação académica para os respectivos cargos. O docente foi jogado ao desemprego.
Em consequência desta estratégia, o programa foi-se fragilizando ao ponto de, neste momento, não ser oferecida a Licenciatura, o Mestrado e o Doutoramento, e de os alunos que estudam Português como cadeiras de opção serem em número inferior a vinte. Cabe, para já, perguntar o seguinte: se o Português está reduzido a cadeiras de opção porque não há professores qualificados nem alunos interessados no paupérrimo ensino que passou a ser oferecido no RIC, o que fizeram, então, os responsáveis com o meio milhão angariado pelo Professor Levi e com os milhares recebidos do Estado de Rhode Island e de fundos federais conseguidos através do Senador Kennedy? Não haverá matéria para uma auditoria?
Dois anos após a saída do fundador e mentor do Português no RIC, é altura de nós, emigrantes portugueses, reflectirmos sobre a actual situação do ensino do português naquela instituição, e de tudo fazermos para repor a normalidade dos cursos, trazendo de volta o docente que os criou e os elevou ao patamar de qualidade e de excelência que os mesmos já conheciam em 2008. Esta é, sem dúvida, uma injustiça que importa corrigir, tanto mais que os motivos que estiveram na base da não renovação do contrato do docente foram a ganância de algumas pessoas que, pela via do dinheiro, conseguiram conquistar uma posição indevida na vida académica, e atitudes racistas contra um homem que, não sendo português, defendeu melhor a língua e cultura portuguesas do que aqueles que se proclamam lusitanos ou luso-descendentes.
Mas há, ainda, outras perguntas que se perfilam. Para que serve a FLAD? Para que serve o Conselho das Comunidades? Para que servem as embaixadas e consulados? Ninguém viu, ninguém quis ver? Quanto aos Pedreiras e quejandos que passaram pelo Ministério da Educação, esses só tiveram olhos para colocar afilhadas e afilhados que fazem do yes sir, servil e cobarde, o seu pão de cada dia.
Que quem me lê na diáspora medite e julgue. É tempo de dizermos a Lisboa que a bota da oratória a favor do ensino da Língua Portuguesa no estrangeiro não condiz com a perdigota de todo este despautério estúpido, desmazelado, incompetente e ignorante. A diplomacia económica não pode ser o Tio Patinhas, com um cifrão em cada olho, deixando subverter à boçalidade do dinheiro os valores maiores da Pátria.
Publicada por B & N em
Quarta-feira, Janeiro 06, 2010

1 comentário:

maria emilia castro disse...

concordo com o que diz, este ano(2010/2011) o Instituto Camoes colocou na Europa e em Africa os coordenadores que entendeu, substitutindo os que estavam sem olhar a competências e dignidade.
Apenas lhe interessou colocar as "amigas" que nada percebem de ensino básico e em nada dignificam a nossa Lingua e cultura e muito menos a divulgam.E com o conluio do SECP e MNE que tem medo de alguns docentes e pseudo-sindicalistas que dizem defender os interesses dos docentes e que por la se passeiam e se agarram ao acento da coordenação com a bandeira de que algo de util tem feito.Um verdadeiro escandalo a ignorancia e depravação, conluio e incompetencia no Luxemburgo e na Alemanha e na Suiça, so como exemplo